quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A Carta de Ianukulá sobre A Carta Recusada

A carta recusada pela Ministra da Cultura no Kuarup

Estávamos lá, na tarde do dia 18/08/2012, poucas horas antes do início de canto e dança do ritual do Kuarup. Lideranças reunidas e imprensa posicionada prontos para o momento de entrega da carta manifesto dos Povos do Xingu para a ministra da Cultura Ana de Holanda. A ministra chega e senta-se ao lado do cacique Aritana e demais lideranças. Enquanto as lideranças preparavam a leitura da carta, os assessores da ministra sussurram em seus ouvidos, então ela se levanta e sai andando, atravessa o pátio da aldeia e entra na oca onde ela estava hospedada. Passado alguns minutos, alguém da imprensa pergunta em voz alta se a ministra não vai voltar para receber o documento. Uma assessora afirma que ela voltará sim. Durante quase meia hora, depois de entra e sai de pessoas da oca, é confirmada que a ministra não irá receber o documento. O ambiente é tomado pela decepção e constrangimento. Visivelmente transtornado, o Cacique Aritana, pede então que a carta seja lida e fala que ninguém estava alí para brincar. A carta foi lida sem a ministra. Depois da leitura, apresenta-se no meio da roda o senador Rodrigo Rollemberg para receber o documento e diz que irá ler a carta na plenária do Senado. A carta foi lida no dia 20/08/2012.

Durante toda a tarde a ministra ficou abrigada na oca. No dia seguinte, após o encerramento do Kuarup a equipe da Ministra promove uma coletiva de imprensa onde se falou de projetos de ponto de cultura e Darcy Ribeiro, nada se mencionou do incidente do dia anterior, Ana de Holanda não mencionou a carta diante das câmeras da Globo.

Vale lembrar, que o governador do Estado de Mato Grosso, Silval Barbosa, esteve presente, mais se retirou da aldeia sem que alguém tenha notado.

Parentes, Vejam como o Governo trata os Povos Indígenas até em suas próprias aldeias. A postura da Ana de Holanda só confirma a postura desse governo com os povos indígenas. Estaremos diante do momento histórico desse país onde a cada dia que se passa o anti-indigenismo se declara?

Para quem viu o encerramento das Olimpíadas de Londres, a carta menciona a apresentação do Brasil, onde os povos indígenas, especialmente os xinguanos, foram simbolizados como uma das belezas a serem apreciadas pelo mundo em 2016.

Ianukulá Kaiabi Suiá
Território Indígena do Xingu

Leia a "Carta" abaixo:













À Excelentíssima Senhora Presidenta da República do Brasil
Dilma Roussef
CC: À Ministra da Cultura
Sra. Ana Maria Buarque de Hollanda
CC: Ao Governador do Mato Grosso
Silval da Cunha Barbosa

Nós, as organizações e lideranças indígenas do Xingu, reunidas na cerimônia do Kuarup, em 18 de agosto de 2012, na Aldeia Yawalapíti, Território Indígena do Xingu (TIX), Mato Grosso, vimo manifestar nossa insatisfação diante dos seguintes atos de violação aos direitos indígenas: a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215; o não-cumprimento da Convenção 169 da OIT, na realização de grandes projetos com impactos sobre Terras Indígenas, como Belo Monte; as modificações realizadas no Código Florestal; as propostas em tramitação para regulamentação das atividades de mineração em Terras Indígenas e a mais recente e grave Portaria 303 da AGU.

Sendo assim, os Povos Indígenas do Xingu reforçam as manifestações de outros movimentos indígenas do Brasil e exigem:
a) imediata revogação da Portaria 303 da AGU;
b) pleno cumprimento da Convenção 169 da OIT, com destaque para o direito de consulta livre, prévia e informada dos povos indígenas;
c) ação enérgica do Governo Federal para garantir a proteção de Matas Ciliares e áreas de Preservação Permanente (APPs), tendo em vista a crescente degradação das cabeceiras dos rios que atravessam e alimentam as Terras Indígenas.

No momento em que o Brasil se prepara para sediar um evento de caráter mundial, as Olimpíadas de 2016, o Governo Federal usa, como estratégia de marketing, a imagem de povos indígenas, especificamente xinguanos, o que contrasta com o crescente e assustador retrocesso de nossos direitos. é urgente que o Estado brasileiro faça mais do que valorizar as culturas indígenas de forma simbólica. é preciso que, na prática, sejam garantidos a manutenção e o cumprimento dos direitos já conquistados.

Esta, sim, seria uma manifestação verdadeira de respeito aos povos indígenas, algo de que o Brasil poderia se orgulhar de mostrar ao mundo.

Assinam:
As organizações:
Associação Terra Indígena Xingu (ATIX)
Instituto de Pesquisa Etnoambiental do Xingu (IPEAX)
Portal do Xingu
Associação Yawalapíti Awapá (AYA)
Associação Tulukai Waurá
Associação Mavutsinim Kamayurá
Associação Indígena Kuikuro do Alto Xingu (AIKAX)
Associação Moygu Comunidade Ikpeng (AMCI)
Associação Indígena Kisêdjê (AIK)
Associação Uyaipiuku Mehinako
Associação Indígena Yarikayu Yudjá
Centro de Organização Kawaiwetê
Associação Aweti
Povos indígenas do Xingu: Yawalapíti, Trumai, Ikpeng, Waurá, Kamayurá, Kuikuro, Kalapalo, Nahukwá, Matipu, Aweti, Mehinako, Yudjá, Kisêdjê, Kawaiweté, Naruvutu, Tapayuna.

Parque Nacional do Xingu (MT) - A participação da ministra da Cultura, Ana de Hollanda, no Quarup, ritual fúnebre sagrado para os índios do Parque Nacional do Xingu, ocorrido durante o fim de semana, ficou marcado por um incidente diplomático. No fim da tarde de sábado, pouco antes da tradicional fila que reúne as etnias para seus cantos divinos, ela foi convidada a sentar-se diante da Casa dos Homens, no centro da aldeia da etnia Yawalapiti, onde permaneceu conversando com o cacique Aritana. Porém, assim que um assessor soube da intenção dos indígenas de entregar um manifesto à representante do governo, a ministra acabou retirada da roda e abrigou-se na oca na qual estava hospedada.

Os indígenas pretendiam entregar à ministra uma carta de protesto contra medidas do governo federal que, na avaliação deles, tiram a autonomia dos grupos étnicos brasileiros. A titular da Cultura, porém, simplesmente deu as costas, sem nada explicar, aos que estavam presentes na cerimônia considerada um dos rituais mais sagrados para os povos do Xingu. A saída abrupta de Ana de Hollanda do Quarup deixou os indígenas, em um primeiro momento, sem entender o que estava acontecendo. Depois, ficou visível a irritação dos povos da floresta. Na carta, as etnias protestavam contra a usina hidrelétrica de Belo Monte, cuja obra recentemente foi embargada pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Fonte das fotos: Imagens extraídas do Google
Fonte dos textos: Facebook (Perfil de Marcelo Manzatti).

 


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