4.set.2012 - Árvore perde as folhas com a estiagem que
castiga o Santa Maria da Boa Vista, em Pernambuco. Cerca de 72 cidades do Estado
em situação de emergência, segundo determinação do governo federal. O Exército
atuará no transporte de milho para abastecer o semiárido nordestino afetado pela
seca Mais
João Carlos Mazella/Fotoarena/Agência O Globo
A volta das chuvas no
semiárido nordestino trouxeram a esperança de dias melhores ao sertanejo, mas
ainda estão longe de acabar com a devastação ambiental causada pela seca desde o
início de 2012. Segundo especialistas e autoridades, a recuperação de um período
de estiagem tão longo e intenso só deve acontecer em um década. Isso, caso as
chuvas voltem à média nos próximos meses e ações governamentais sejam tomadas
para garantir o abastecimento de água. A seca 2012-2013 já é considerada a pior
em pelo menos 40 anos.
Em muitas regiões do
sertão, a semana foi de chuva intensa, que chegaram a causar prejuízos e levaram
municípios que sofriam com a seca a decretar emergência no Piauí e na Bahia.
Porém, devido ao deficit hídrico acumulado, as chuvas não devem ser capazes de
suprir toda a carência deixada nos últimos meses. É a chamada "seca verde",
quando o pasto floresce, o chão fica úmido, mas não houve um bom acúmulo de
água.
"As chuvas que caíram
esses dias foram importantes, mas não foram suficientes para a regularização do
deficit hídrico no Estado. O que tem chovido não corresponde a 10% do necessário
para a normalização hídrica do Estado. É necessário que as chuvas continuem a
cair", afirma o meteorologista da Secretaria de Meio Ambiente e Recursos
Hídricos de Sergipe, Overland Amaral.
Mesma situação de
"seca verde" é enfrentada na Bahia. "Essas chuvas deram uma aliviada, mas não
resolvem o problema, pois o deficit é muito grande e vem de longo tempo. Há
ainda um prejuízo muito grande para a agricultura, pois a retomada vai demorar
muito tempo.", afirma o coordenador da Defesa Civil da Bahia, Salvador
Brito.
10 anos de recuperação
Em Alagoas, 37
municípios sofrem com a estiagem e a situação também é de caos. Para o
ex-secretário de Estado da Agricultura e recém-empossado na cidade de Pão de
Açúcar, Jorge Dantas (PSDB), é preciso que o governo federal participe de forma
mais atuante no processo. Ele também acredita que a recuperação nordestina só
ocorrerá a longo prazo.
"Serão 10 anos para
recuperar os efeitos desta seca. Precisamos pensar em ações de médio e longo
prazo, porque a seca é um efeito natural que sempre acontece. É necessário
propor a criação de um órgão a nível federal específico para seca",
disse.
Diante da necessidade
de recuperação a médio e longo prazo, a AMA (Associação dos Municípios
Alagoanos) preparou uma série de reivindicações que serão entregues, nos
próximos dias, ao ministro da Integração Nacional, Fernando Bezerra Coelho.
Entre as medidas solicitadas estão o fortalecimento do programa de segunda água,
que prevê a construção de cisternas com capacidade para 52 mil litros (que
serviria para consumo animal), recuperação de 100% dos poços artesianos e
criação de um programa para plantio da palma (vegetação da mesma família do
cacto, que sobrevive a longos períodos de seca, mas serve de alimento para o
rebanho).
Na Paraíba, onde 195
municípios decretaram emergência, as chuvas caíram com menos intensidade nos
últimos dias. A situação no Estado ainda é considerada bastante preocupante,
especialmente no que diz respeito a questão pecuária. Segundo o presidente da
Federação da Agricultura da Paraíba, Márcio Borba, 40% das cabeças de gado do
Estado foram perdidas com a seca, seja por morte, transferência de Estado ou
abate antecipado.
"A Paraíba tinha 1,2
milhão de reses [animais que se abatem para a alimentação] antes da seca, e hoje
não temos 800 mil. Se continuar seco, além das 40% perdidas, 30% irão daqui para
o final de 2013. Vamos levar de oito a 10 anos para recuperar esse índice, caso
tenhamos anos normais e se houver incentivo do governo federal, que até agora
tem feito algo quase que insignificante", disse.
Segundo um estudo do
Etene (Escritório Técnico de Estudos Econômicos do Nordeste), ligado ao Banco do
Nordeste, os Estados também sofreram severamente com a perda de lavoura, o que
levará um tempo para ser recuperado. Em 2012, por exemplo, houve uma queda da
safra de 85% de milho e feijão no Ceará --foram 1,179 milhão de toneladas
colhidas em 2011, contra 176 mil no ano passado. A perda foi a maior desde
1958.
Falta de chuva
Segundo dados da Ufal
(Universidade Federal de Alagoas), o ano de 2012 foi marcado por uma queda
considerável na precipitações. "Nos meses de fevereiro, março e abril de 2012,
por exemplo, choveu entre 300 e 500 mm a menos do que o ano de 2011. É
importante mencionar que, para o semiárido nordestino, o principal período
chuvoso costuma iniciar entre fevereiro e março", afirmou o professor Humberto
Barbosa, coordenador do Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de
Satélite da Ufal. Cada milímetro de chuva equivale a um litro de água em 1
m².
"A seca hídrica é
ainda muito intensa e é o maior problema enfrentado hoje, pois o deficit é muito
alto. Precisamos que, ao menos este ano, a chuva ocorra na média, para não
piorar ainda mais a situação", complementou Barbosa.
Fonte:
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2013/01/26/apesar-de-chuvas-nordeste-levara-uma-decada-para-se-recuperar-de-efeitos-da-seca-preveem-especialistas.htm