sábado, 16 de fevereiro de 2013

Papo entre manos pós-carnaval

 
O Marcelo Manzatti nos enviou a crônica abaixo de autoria do Alceu José Estevam do Urucungos, Puítas e Quijengues (Campinas/SP). Por sua beleza, linguagem e toques -, desejei socializá-la aqui. Leia e tire suas conclusões.
 
A Crônica:
 
Fala aí mano, tudo bem?
 
Firmeza, vou levando e você como passou o Carnaval?
 
Na fé... passei sambando, fazendo um xirê juntos com o Ibaô, o Urucungos e o Maracatucá em Campinas e também com o Solano Trindade lá no Embú das Artes.
 
Legal, então a parada foi firmeza?
 
Podes crer, mano, só andando com os caras, trocando ideias com as minas, ouvindo as tiazinhas contando estórias, tocando tambor e pagando uma de neguinho carnavalesco.
 
E como é que foi esses rolês?
 
Bom, seguinte, primeiro eu foi lá no Ibaô, onde rolou uma parada em homenagem a Yemanjá. Estava todo mundo lá no Balaio das Águas, nome da pegada promovido pelo Ponto de Cultura que fica lá no Nóbrega. Estava legal pra caramba. Teve roda de capoeira, puxada de rede, jongo, maracatú, afoxé e um lance num terreiro que também fica lá no Nóbrega para a entrega do balaio de flores que seriam levados ao mar, no dia seguinte a Yemanjá.
 
Pô, então estava da hora! Quem que a gente conhece que estava lá?
 
Vai vendo, vou listar: o pessoal do Jongo Dito Ribeiro; o Maracatucá; o Uabassá Ilu, Crispim Menino Levado do Marquinhos; inclusive ele fez a tiririca; o Urucungos e o Afoxé Ibaô. Fora uma pá de gente preta e bonita.
 
Pó meu... e as pretas?
 
Cada uma mais linda que as outras.
 
Eu perdi mesmo
 
Perdeu playboy.... mas você é casado. Aí depois foi na outra fita lá no Bloco do Urucungos, no domingo de carnaval. Está sabendo que ele está fazendo 25 anos?
 
Já tem tudo isso?
 
Só.... podes crer! Mas foi muto bacana. Teve a coroação do maracatu com a presença de um monte de parceiros, inclusive com o pessoal do Maracatucá, do Ibaô e vários neguinhos de diferentes grupos da cidade. Ah... deixa eu contar: sabe aquele lance da PM, em que o capitão da corporação lá do 8º, que expediu um oficio para os seus subordinados mandando os policiais abordarem os pretos e os pardos com idade de 15 a 29 anos? Pois bem, o Urucungos, durante o cortejo do bloco passou em frente o quartel dos caras, que fica bem na cara do gol da sede do grupo em silencio.
 
E dai?
 
E dai que foi uma coisa parecida com aqueles protestos de desobediência civil das lutas do negros nos USA. Na hora da fita parecia mais um cortejo fúnebre. O batalhão da percussão veio tocando e o povo cantando até que chegou em frente ao quartel. Aí parou-se tudo e todos passaram em silencio olhando para o quartel e os soldados que lá estavam ficaram olhando sem entender nada, mas lá dentro, os oficiais que estavam de plantão ficaram atento pensando ser de fato, o protesto do movimento negro contra a ordem daquele capitão.
 
E ficou só nisso?
 
Sim, essa era a diretriz do Urucungos para apoiar a campanha do movimento negro contra esse ato racista, mas vão ter outras paradas sobre esse fato. No dia 17 vai ter um manifesto lá no Taquaral com todo mundo do movimento.
 
Bacana então, pena que eu perdi.
 
Perdeu mesmo, mas o Roniel Felipe, aquele jornalista que fez aquele livro sobre a Vila Bela, "Negros Heróis" postou umas fotos da hora no Face. Mas vai vendo, na segunda fomos para o Embú das Artes participar junto com o Bloco Kambinda, liderado pelo Teatro Popular Solano Trindade de um cortejo de maracatu no carnaval municipal de Embú.
 
É como anda a Raquel?
 
Está bacana e vibrante. Sabe como é que e a Raquel né? Ela não para.
 
E aí, a parada lá foi bacana também
 
Foi... juntou o pessoal do Solano, do Urucungos, um grupo lá de Sorocaba, um pessoal do Sul e a galera do Embú para compor o Bloco. Bacana mesmo.

E o carnaval da Bahia?

Aquilo está estranho. Veja você: quarta feira estava lendo a entrevista do João Jorge, presidente do Olodum, quando ele disse que o carnaval em Salvador se transformou no Carnaval de uma artista só, no caso a Ivete Sangalo. O Oludum já se apresentou em 37 países, quatro Copas do Mundo e tocou com os 30 maiores artistas mundiais da atualidade e não tem espaço na grade de visibilidade do Carnaval baiano. Quando o Ylê Ayê, Os Filhos de Gandhi e o próprio Olodum participam nos seus circuitos, os patrocinadores de camarotes e da mídia ignoram totalmente esses blocos porque estão nas suas raízes, os cantos de protestos e o questionamentos impostos pela economia global, que sufoca o próprio carnaval baiano.
 
E o Carlinhos Brown?
 
Ele agora quer criar o Afrodromo para os blocos afro desfilarem. Já tem gente caindo matando em cima dele, principalmente o movimento negro e os especialista em sociologia porque é exatamente isso que o sistema quer. Negros não precisa ficar juntos no circuito Barra/Ondina, onde fica a fina flor da Dinamarca, pretos e pardos tem que ficar nos guetos, nos seus afrodromos, no Campo Grande, no Curuzu e na Liberdade levando porra da policia. Pretos e pardos não podem ficar fora do seu lugar padrão.
 
O Gil está nesta polemica?
 
O Gil diz que a dicotomia das relações entre o sagrado e o profano passa pela lógica das leis transcendentais que rege o legado dos realces, sendo ele disseminado assim que o bloco passar na transbordação do Axé e da Bossa Nova.
 
Ah...
 
É isso aí meu... acho que vou sair fora porque minha preta esta me esperando pra gente fazer compra.
Podes crer, fiz isso ontem, hoje vou tomar umas breja, boa sorte e a gente se vê.
Na fé, vai nas encruzas com o corpo fechado
 
Saravá meu irmão.
 

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